Um Barco
Navegar foi necessário, impreciso mas necessário.
Um pouco de mim

Homem, 56 anos,
Rio de Janeiro, Música


umbarco@umbarco.blog.br

Histórico das mensagens

Um Barco - Versão atual

Um Barco - Arquivos da Fase II

Um Barco - Arquivos da Fase I

* Porque um BLOG?
* Após um dia...
* Um dia...uma odisséia
* Poder ser
* Para alguém que quer ser musa...
* Música...onde está a música?
* E fotos...não tem fotos?
* O tempo...
* Rosa dos Ventos
* Soneto - Chico Buarque, 1972
* Música nova...
* Alegria, alegria...
* Chuva...
* Seria...
* Domingo...
* Menino...
* Mudanças...
* (A) fim de mudanças...por enquanto...
* Desencontros...
* Epitáfio...Como um Ladrão
* Canção de Esperar Você...
* Chico Buarque
* Resto de Tristeza...
* Fragmentos...
* Olhar...substantivo...
* Eu canto o Corpo elétrico
* Simplesmente...
* Divagação...
* Sobre a assimetria dos sentimentos...
* "Te Rever"
* Velho Forte...
* Quem...
* Sobre o difuso...
* Sabe, gente...
* Navegar é preciso?
* Ser ou não ser...uma ameba!
* Ser ou não ser...Um Barco
* Navegar é...
* Mar Grande
* Navegar em círculos...
* Saída....
* ...e chegança
* De cidades e campo...
* De cidades e campo II, uma odisséia campestre.
* E Um Barco va...
* Estranheza
* Motivações, opções e outras explicações.
* Em um, muitos...
* Ainda? Já!
* Entre os sonhos, a vida de alguém
* Síntese
* Duas visões de Um Barco
* Balanço
* Eu e a música - primórdios
* Eu e a música - consciência crítica
* Eu e a música - intermezzo
* Eu e a música - abre-se o leque
* Eu e a música - dois festivais definitivos
Eu e a música - o outro festival definitivo
* Eu e a música - 1968


19/02/2005

Eu e a música - o outro festival definitivo

Este post demorou a sair, mas ainda estamos em outubro de 1967. No anterior, discorremos sobre o III Festival da Música Popular Brasileira, Teatro Record, São Paulo. Agora veremos um pouco do II Festival Internacional da Canção Popular (FIC - fase nacional), Maracanãzinho, Rio de Janeiro. Imaginem, ao longo de um mês, três eliminatórias do festival da Record, com 36 músicas novas, e duas do II FIC, com 47, além das duas finais.

Ao todo, 83 músicas de alto nível, compostas pelo creme da MPB e interpretadas pelos melhores cantores e grupos. A final do festival da Record ocorreu em 21/10/67. A primeira eliminatória do FIC em 19/10/67, a segunda em 21/10/67 (coincidindo com a final do outro) e a final em 22/10. Haja fôlego para absorver tudo aquilo em quatro dias.

Enquanto o festival que se encerrava inovava em propostas musicais e arranjos, o que se iniciava tinha um perfil mais conservador. No primeiro, a consagração dos baianos, nesse, o aparecimento de um carioca criado em Minas Gerais, jovem, negro, tímido e que (pasmem) lougrara classificar três músicas para as eliminatórias, sendo duas suas e outra em parceria, um tal de Milton Nascimento. Seu parceiro era Fernando Brandt.

Lá estavam Edu Lobo, Chico Buarque, Pixinguinha, Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle, Vinicius de Moraes, Antonio Adolfo, Luiz Eça, Roberto Menescal, Francis Hime, Geraldo Vandré. Querem mais? Sérgio Mendes, Dori Caymmi, Nelson Mota, Joyce. O creme do creme.

Volto a lembrar que escrevo essa série de posts ajudado pelo livro "A Era dos Festivais - Uma Parábola", de Zuza Homem de Mello, que estava presente a quase todos, participando no apoio e, portanto um conhecedor dos bastidores. De minha lembrança, apenas as eliminatórias e a reação do público às músicas. Aqui, como que organizo as lembranças, para expor.

Desde a primeira eliminatória, "Margarida", de Gutemberg Guarabira, cantada por ele e pelo Grupo Manifesto, arrebatou a torcida, com seu refrão "...apareceu a Margarida olê, olê, olá...", da cantiga de roda. Chico Buarque levou "Carolina", música linda e doce, embora fugisse ao estereótipo que se criava em torno do gênero "música de festival". O certo é que, hoje, lendo a relação de classificadas, poucas ainda permanecem em minha memória.

Mas o festival foi mesmo de Milton Nascimento que, na época, tinha 24 anos. Das três, duas foram para a final, "Morro Velho" e "Travessia". A primeira, uma canção de amizade entre dois garotos, numa fazenda, o filho de um trabalhador e o filho da dono da fazenda, criados juntos, até a saída do filho do dono, para um "...tempo de estudo na cidade grande...". Num Brasil historicamente rural, era uma realidade em muitos locais e isso tocou fundo em muitos. "Morro Velho" ficou com a sétima colocação. "Travessia", foi a segunda colocada e uma das músicas mais tocadas, no Brasil e no exterior (com o nome de "Bridges").

Ganhou "Margarida", que ficaria em terceiro lugar, na fase internacional. "Carolina" foi a terceira colocada e "Fuga e Antifuga", de Edino Krieger e Vinicius (que já foi a música de um post deste blog), ficou com a quarta posição.

Os membros Grupo Manifesto, do qual Gutenberg fez parte, ainda classificaram duas músicas (lindas, diga-se de passagem), "Canção de Esperar Você" (também tema de post passado), cantada por Gracinha Leporace e "Desencontro", de estilo "Samba em Prelúdio", onde as vozes, inicialmente separadas, de homem e mulher, juntam-se, no final, cantando suas estrofes respectivas.

Num comentário ao post anterior, Dora "reclama", dizendo ter notado a falta de Chico Buarque. Minha cara Dora, Chico foi o único compositor a quem dediquei um post exclusivo, já que foi uma enorme influência em minha relação com a música e com o violão. Além disso, ele já havia sido citado, anteriormente, em outros posts, dessa série "Eu e a música".

Confesso que balancei, na escolha da música do post. "Margarida", "Travessia", "Carolina" já são por demais conhecidas e eu procuro dar preferência àquelas que meu pequeno e fiel público ainda não conhece ou não guardou na lembrança. Poderia ser "Morro Velho", mas os álbuns de Milton foram relançados e essa pode ser encontrada ou baixada da web. Escolhi "Desencontro", do Grupo Manifesto, apesar de não ter ficado entre as dez premiadas, embora tenha ido à final.


Desencontro
(Amauri Tristão e Mário Telles)

Em cada pôr de sol, eu vejo renascer
O quanto não sou longe de você
Mas eu sei bem que a lagrima vã
Que turvar o meu olhar irá se transformar

Na estrela da manhã que longe vai nascer
Brilhar tão fugaz no céu pra você
Depois vai morrer na aurora que traz
A vontade de encontrar você em cada amanhecer.


Vem de novo o sol e o dia vai saber
Que eu nada sou, longe do teu olhar o meu olhar
Sou como esse sol sem ter por quem brilhar
Sempre só no céu, um céu crepuscular

Outro dia vai na tarde que já vem
Tudo é solidão e eu sei bem porque, é por você
Se o meu coração pudesse te trazer
Eu ia encontrar você em cada anoitecer



Escrito por um barco às 09h03
[ Comentários  ] [ envie esta mensagem ]

# topo da página #