Um Barco
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13/07/2004

Sobre a assimetria dos sentimentos...

A distância que separa ânimos opostos é menor que nosso intelecto. O tempo que leva a uma inversão de humor é menor que nossa paciência. A duração do arrependimento que se segue é maior que nossa vontade. O travo amargo perdura para além de nosso orgulho.

E, com tudo isso, os efeitos secundários, mágoa a dois não compartilhada, porquês sem respostas convincentes, palavras trocadas que não clareiam totalmente, o receio da reaproximação, entropia na amizade.

Restam frase amargas, marteladas de nós para nós mesmos, "...eu podia..." ou "...eu não devia...". Mas já é tarde, ainda que não demais, porém o bastante para enevoar meses, anos de convivência fraterna.

As trocas de desculpas soam frias, o cristal trincou, o som não é mais límpido e contínuo. Roubando (como sempre faço) um verso de música "...nada vai trazer de volta a beleza cristalina do começo e os remendos pegam mal...".

O pior de tudo é que não houve culpados, mas ambos se culpam.

A lembrança é recorrente, mesmo que decrescente no tempo.

Nada a fazer senão deixar a vida seguir e esperar que, num instante futuro qualquer, numa sintonia qualquer, o calor da amizade reflua da mágoa encruada e se transforme num abraço de aceitação das assimetrias dos sentimentos humanos.


Escrito por um barco às 22h05
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