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07/10/2004

Estranheza

Um dia a gente acorda meio diferente, sei lá. Não é tristeza, não é melancolia, não é desânimo, muito menos a "Roda Viva" do Chico Buarque.

Se eu soubesse, com precisão, o que é, poderia até nominar. O problema é que o mundo e as pessoas assumem aspectos estranhos, nossa percepção se aguça, nossa visão adquire um filtro impressionista e tudo fica meio embaçado e nítido, função da distância ou do distanciamento, as cores se amplificam, ora borradas, ora brilhantes, tudo muito estranho mesmo...

E tentamos mergulhar de cabeça no trabalho, até para buscar um referencial com uma realidade que, momentaneamente, nos escapou. E quase conseguimos, durante o expediente, inclusive almoçamos com um monte de gente, falando abobrinhas, tentando burlar a irrealidade que nos cerca. Tudo funciona até o momento (e ele sempre chega) em que não há trabalho, não há ninguém por perto, só nossa própria condição, o fato de ser.

Quantos labirintos temos de percorrer para encontrarmos a saída de nós mesmos? Quantos aposentos em nosso coração necessitam ser varridos, arejados, para que tenhamos a oportunidade de respirar a claridade dos pensamentos? Quantos baús necessitam ser abertos, em busca dos mapas dos tesouros que levam à ilha da realidade?

O mais interessante é que não há, aparentemente, envolvimento emocional ou, pelo menos, as emoções não se manifestam claramente. Alguém me falou em insatisfação, mas nem isso podemos perceber, ou, quem sabe, seja mesmo e nossa capacidade crítica fica atordoada.

Ah! Antes que eu esqueça. Não é pileque, nem canabis ou algo assim. Se fosse, tudo estaria explicado ou nem precisaria ser. Aliás será que precisa mesmo ter explicação? Será que temos de ter resposta para cada pergunta oculta dentro de nós e que a vida nos apresenta? Será que somos obrigados a racionalizar todas as situações por que passamos (não me perguntem, sou irracionalmente racional)?

E chega a noite e chega o sono e chega o sonho, tão lúcido, tão claro, tão óbvio, e chega o amanhã, com a roupa do hoje e é como se nada tivesse acontecido. Pensando bem, nada aconteceu. Um hiato, quiçá mais lúcido que o cotidiano no qual estamos imersos.

A aparente estranheza que sentimos no dia anterior foi como um estado alterado de consciência que, como é comum nos processos intuitivos, escapou pelos dedos da imaginação. Passou. Foi.

A música do post? Vejam, abaixo, e ouçam, se assim desejarem.


Um Gosto de Sol
(Milton Nascimento & Ronaldo Bastos)

Alguém que vi de passagem
Numa cidade estrangeira
Lembrou os sonhos que eu tinha
E esqueci sobre a mesa
Como uma pêra se esquece
Dormindo numa fruteira
Como adormece o rio
Sonhando na carne da pêra
O sol na sombra se esquece
Dormindo numa cadeira

Alguém sorriu de passagem
Numa cidade estrangeira
Lembrou o riso que eu tinha
E esqueci entre os dentes
Como uma pêra se esquece
Sonhando numa fruteira


Escrito por um barco às 21h35
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