Entre o já e o ainda, confesso que já nem sei mais qual escolher e que ainda tenho dúvidas.

Tem ocasiões em que ainda é melhor que o já. Já em outras horas, ainda incomoda ou tende a nos levar à loucura, tipo (na porta do único banheiro), "já acabou?", "ainda não!".

Já o já, chega a ser grosseiro, até frustrante, como, "menino, ainda não fez o dever de casa?", "já vou fazer, mãe".

Já é pressa, vontade de acabar ou ter acabado. Já é resposta ao chamamento, quando não temos a menor vontade de obedecê-lo. Entretanto, pode ser a esperança que ainda não se realizou, vontade de começar.

Por outro ângulo, ainda também pode se tornar chato, a ponto de não vermos a hora de já vê-lo pelas costas. Já tende a ser afirmativo, até definitivo. Já o ainda, pende para a dúvida ou negação, quando se torce pelo já e nos respondem que ainda não, como no banheiro já citado e, espero, ainda não esquecido.

Ainda por cima, o já se faz presente quando o tempo não segue no mesmo rítmo da vontade, que grita pelo ainda e recebe como resposta um já é hora. Imaginem-se alunos, fazendo uma prova já em vias de encerrar.

Pensando bem, ainda tem seus pontos negativos, quando o já significa algo que ainda impede de começar ou de acabar, como os minutos infindáveis de uma sessão de spinning aquático (ainda não fiz, mas deve ser bem chato, para quem já fez por necessidade!).

Indo até a música, "...não chore ainda não, que eu tenho um violão e nós vamos cantar..." e, mais tarde, "...você minha amiga já pode chorar". Aqui, a esperança do ainda é destruída, no final, pela inexorabilidade do já. Outro exemplo "Ainda é cedo, amor. Mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora da partida...". E, já que falamos de música, "Já conheço os passos dessa estrada...", para, mais à frente, "...minha cara, ainda volto a lhe escrever...".

A gente já passou por muita coisa na vida, mas sempre acha que ainda vem mais pela frente.

Para um post tão surreal, só uma música também surreal, mesmo que na letra não apareça nenhuma das duas palavras.