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21/01/2005

Eu e a música - consciência crítica

No post anterior o ano era 1965, eu estava curtindo a jovem guarda e começando um namoro com os Beatles, tudo em nome do "ié, ié, ié". Foi em Recife e pela TV local, com programas do sul-maravilha, em "vídeo-tape", veiculados dias após a transmissão original, que comecei a receber uma enxurrada de informações musicais, importantes na minha, digamos, tomada de consciência crítica, só para dar uma certo ar de erudição a este post.

1965 foi, em termos de disseminação de uma cultura musical múltipla, um ano fundamental. O programa "Jovem Guarda", comandado por Roberto Carlos, mantinha acesa a chama da estética da jovem guarda e ainda viria a lançar moda, através das etiquetas Calhambeque e Tremendão.

"Um Instante Maestro", de Flávio Cavalcante, era um verdadeiro júri musical e, bem ou mal, me mostrou parâmetros de julgamento de músicas. Ali conheci nomes como Nelson Motta, Sérgio Bittencourt, entre outros, que me influenciariam.

O show "Dois na Bossa" deu origem ao programa "O Fino da Bossa", com Elis Regina e Jair Rodrigues, que apresentava artistas de várias tendências da música brasileira, de Adoniram Barbosa a Wilson Simonal, passando por Zimbo Trio, e por aí vai.

Também em 1965 ocorreu o I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior de São Paulo, vencido por "Arrastão", de Edu Lobo e Vinicius de Moraes e cantada por Elis Regina, que lançou aquele célebre movimento de braços que, no contexto da música, sugeria uma "puxada de rede" (vi muitas delas em Salvador). Interessante que, ao escrever este post, consultando, no magnífico livro "A Era dos Festivais", de Zuza Homem de Mello, a lista das finalistas, a única lembrada até hoje é "Arrastão".

Para mim foi uma verdadeira "overdose" de informação musical de tal ordem que, ao ir passar as férias em Salvador, como sempre fazia, já me sentia menos "papo firme", apesar de que, nas rodas em torno de um violão, sempre rolava uma do Roberto Carlos, mas já se cantava "Arrastão". Uma guinada e tanto.

No ano seguinte, em 1966, houve três festivais da canção, o II Festival Nacional da Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, vencido por "Porta Estandarte", de Geraldo Vandré e Fernando Lona, o II Festival da Música Popular Brasileira (o primeiro foi chamado de I Festa da Música Popular Brasileira e realizou-se em 1960), da TV Record de São Paulo, onde dividiram o prêmio de vencedores "A Banda" de Chico Buarque e "Disparada", de Geraldo Vandré e Théo de Barros e o I Festival Internacional da Canção Popular, da TV RIo e Secretaria de Turismo da Guanabara, cuja vencedora foi a tremenda e injustamente vaiada "Saveiros", de Dory Caymmi e Nelson Motta.

Também em 1966 um fato me balançou, no que diz respeito à minha relação com a música. Na enchente de 1966, em Recife, o apartamento onde morava ficou totalmente inundado, na verdade, quase submerso. Era no térreo. Isso me obrigou a morar, por uns dois meses, com parentes de minha madastra, cujo primo tocava bandolim e se reunia com amigos, formando um grupo de violão, cavaquinho, bandolim, flauta, pandeiro. Ouvindo aqueles choros, sambas e valsas, comecei a comparar as harmonias das músicas que gostava e percebi que as da jovem guarda (e ainda gostava de algumas) eram pobres, em confronto com as daquelas e as dos festivais. Dali em diante, tocar violão passou a ser uma meta e eu tinha 16 anos.

Foi nessa época, também, que comecei a prestar mais atenção às letras das músicas e a apreciá-las, não só no contexto das canções, mas em sua beleza intrínseca e nas mensagens que traziam. Essa foi, talvez, a mudança mais importante na minha cabeça, a busca do conteúdo das letras, o que fez com que eu começasse a me afastar das músicas da jovem guarda.

A música que havia escolhido me levaria a uma extensa explicação. Tanto é, que terá um post específico após essa série que iniciei, por isso escolho "Arrastão", vencedora do primeiro festival realmente importante e que criou uma estética própria, que seria seguida por alguns anos, por quem compunha músicas para festivais.


Arrastão
(Edu Lobo & Vinicius de Moraes)

Eh, tem jangada no mar
Eh, eh, eh, hoje tem arrastão
Eh, todo mundo pescar
Chega de sombra João

Jovi, olha o arrastão entrando no mar sem fim
Ê meu irmão me traz Yemanjá pra mim

Minha Santa Bárbara
Me abençoai
Quero me casar com Janaína
Eh, puxa bem devagar
Eh, eh, eh, já vem vindo o arrastão
Eh, é a Rainha do Mar
Vem, vem na rede João

Pra mim
Valha-me Deus Nosso Senhor do Bonfim
Nunca, jamais se viu tanto peixe assim



Escrito por um barco às 08h11
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