Um Barco

domingo, 3 fevereiro 2008

Bloco do Eu Sozinho – Marcos Valle

Em 1919, um folião chamado Júlio da Silva ou Júlio Santos, o nome varia, segundo uma busca simples e sem grandes formalismos, que realizei na Internet, saiu fantasiado segurando uma placa onde constava “Bloco do Eu Sozinho”. Encontrei, inclusive, uma foto pequena e sem muita nitidez, aparentemente do folião, onde aparece, creio, o número 43, em cima e à esquerda, no cartaz (talvez o ano da foto).

Saber de alguém só, com sua própria alegria (ou não, quem sabe?), pulando sozinho em meio a uma multidão, despertando, apenas com seu visual, emoções contraditórias, função do momento de cada um, exerceu um enorme fascínio sobre mim, mesmo sem nunca ter visto o personagem.

Por ocasião de sua morte, em 1979, a fantasia já era usada por muitos, em muitas cidades e, no corrente ano, a tradição será mantida, “Pelas mãos do funcionário público Vilmar Torres, que até o último acorde de banda deste ano cumprirá uma maratona em blocos vestido a caráter, em vôos solos como o original.” (noticiado no jornal O Globo, de 23/01/08, Rio,coluna “No embalo”, p. 18.)

Na verdade, o carnaval me fez pensar, de maneira mais forte, na canção com o mesmo título, música de Marcos Valle e letra de Ruy Guerra, sobre a qual já havia afirmado, num post de 2005, ter sido uma espécie de hino de minha juventude.

Só tomei conhecimento da existência do personagem depois de ter escutado a canção em 1968 e, até em função de ter-me identificado com a letra, vesti, interiormente, a fantasia que a música me sugeriu, menos no carnaval, pois, ao contrário do personagem, fui daqueles foliões que saía com uma turma numerosa, nos carnavais de Salvador, na década de 60.

Gosto, na música, da alternância entre os tons menor e maior, como a pontear o estado de espírito que cada estrofe apresenta, na busca, talvez, de um equilíbrio interior impossível, na tentativa que nós próprios tantas vezes fazemos de sermos muito quando, na realidade, sabemos que nem somos o que podemos.

Carnaval faz emergir a dialética do real e do imaginário, a negação do certo pelo etéreo, da supremacia dos sentidos sobre a razão mas, por outro lado, amplia a percepção da fragilidade desse lado racional, tão facilmente (ou etilicamente) contido, por três ou quatro dias.

Domingo de carnaval, noite, após um dia de chuva, que cai, de modo intermitente desde o dia anterior, muito o que pensar, relembrar, reviver, e, naturalmente, compartilhar.

No Bloco Do Eu Sozinho
(Marcos Valle & Ruy Guerra)

blocodoeusozinho.mp3

No bloco do eu sozinho
Sou faz tudo e não sou nada
Sou o samba e a folia de fantasia cansada
Sou o novo e o antigo
Sou o surdo e o entrudo
Visto farrapo e o veludo
Faço um breque, depois sigo

No bloco do eu sozinho
Sozinho sou cordão
Sou a esquina do caminho
Sou rei Momo e Damião
Sou o enredo da parada
Sou cachaça e sou tristeza
Pulando junto e sozinho
Faço da rua uma mesa

No bloco do eu sozinho
Sou São Jorge que passeia
Sou alguém que esquece a lua
Em favor de uma candeia
Sozinho sou a cidade
Sou a multidão deserta
Pé na dança e mão aberta
Em busca da vida cheia

No bloco do eu sozinho
Sou a seda do estandarte
Sou a ginga da baiana
Sou a calça de zuarte
Sou quem briga e deixa disso
Sou Oropa e Aruanda
Sou alegria de Rosa
que nunca brinca em serviço

No bloco do eu sozinho
Sou a sorte e o azar
E o folião derradeiro
Que abre os braços pra brincar
Sou passista e sou pandeiro
E nas pedras da calçada
Sou a lembrança mais fria
De um mundo sem madrugada

No bloco do eu sozinho
De toda e qualquer maneira
Na bateria calada
Nas cinzas de quarta-feira
Nos confetes da calçada
Nas mãos vazias de Rosa
Sou alegria teimosa
Sambando pra não chorar

Filed under: Música — Um Barco @ 11:14 pm

quarta-feira, 16 janeiro 2008

Minha Rua – Sidney Miller

Visitei, recentemente, a rua em que vivi, dos 5 aos 9 anos de idade e, naquele momento em que lá estive, a canção deste post se tornou mais nítida em minha lembrança, como a rua que, em linhas gerais, mudou relativamente pouco em quase 50 anos. Algumas casas ainda tinham a mesma fachada.

Quanto aos personagens descritos na canção, lembro-me de todos, até e inclusive, do último descrito que, afinal de contas, era eu mesmo, naquela distante década de 50.

Esta música nem faz parte do rol das mais conhecidas de Sidney Miller, como “A Estrada e o Violeiro”, “O Circo”, “Pois é Pra Que”. Ele morreu muito cedo, aos 35 anos e os títulos de suas canções evocavam pedaços da infância, como, além das citadas, “Menina da Agulha”, “Passa, Passa Gavião”, “Marré-de-Cy”, onde usava pedaços de letras originais das canções infantis para pontear letras, em geral longas, com belas imagens.

Era um letrista refinado. “A Estrada e o Violeiro”, que podem ouvir em um post de 2005, obteve o prêmio de melhor letra do III Festival da Música Popular Brasileira, Teatro Record, São Paulo, em 1967.

Sidney Miller viveu pouco, de 1945 a 1980, deixando uma obra pequena e pouco conhecida, mas cheia de jóias musicais.

O Quarteto em Cy é quem interpreta este arranjo de “Minha Rua”, que fez parte do álbum (LP) “Em Cy Maior”, de 1968. Creio, inclusive, que é a única gravação. A letra, não consegui localizar em nenhum site de busca, mostrando como é pouco conhecida, mas como já sabia quase de cor, foi fácil transcrever e compartilhar aqui.

Minha Rua
(Sidney Miller)

minha_rua.mp3

Minha rua pequenina
Tem seu mundo em pouco espaço
Cada esquina tem seu rosto
Cada rosto seu compasso

Cada passo na calçada
Me parece estar chamando
Venham todos na sacada
Que o carteiro vai passando

Roda o mundo e não se cansa
Roda o tempo e não se importa
Porque traz uma esperança
Deixa um sonho em cada porta
Na saudade que transporta
Sua vida não é sua.
São mil vidas de outras terras
De outra gente de outras ruas

Cada passo na calçada
Me parece estar chamando
Venham todos na sacada
Varredor lá vem chegando

Varre o pó da madrugada
Que a vassoura é pau e palha
Varre o lixo na calçada
Que de noite o vento espalha
Fosse a vida o teu trabalho
Vagaroso e vagabundo
Teu sorriso varreria
Varredor a dor do mundo

Cada passo na calçada
Me parece estar chamando
Venham todos na sacada
Vendedor lá vem cantando

Na cabeça traz um cesto
Na cantiga traz a moda
No pregão traz o produto
Chama o povo e faz a roda
Sua voz quando anuncia
Toma o gosto da cocada
Que de noite é melodia
Pra adoçar a namorada

Cada passo na calçada
Me parece estar chamando
Venham todos na sacada
Que o moleque está brincando

Rei da rua tem tesouro
Tem coroa que é de lata
Mas tem sonho que é de ouro
Liberdade que é de prata
Pois seu reino de pirata
Sem fronteira e sem esquina
Ninguém sabe onde começa
Ninguém sabe onde termina

Minha rua pequenina
Faz a volta em cada aurora
Fecho os olhos, dobro a esquina
Digo adeus e vou-me embora

Filed under: Música — Um Barco @ 9:51 pm

terça-feira, 1 janeiro 2008

Ano Novo – Chico Buarque

Quando pensei em escrever algo musical sobre o ano novo, a primeira canção em que pensei foi, justamente, esta que dá título ao presente post.

Fez parte do segundo álbum de Chico Buarque, “Chico Buarque de Hollanda – Vol.2”, lançado em 1967. Sobre o álbum, podem ler o que o próprio Chico escreveu, em junho de 1967, em seu site.

Na época, a cada lançamento de disco de algum dos grandes, como Chico, Edu Lobo, entre outros, os tocadores de violão e aprendizes (categoria em que me inscrevia) procuravam, o mais rápidamente possível, aprender as harmonias, para tocar nas rodas das turmas de bairro, minha formação e consolidação estético-musical. E não foi diferente com o segundo e esperado “LP” do Chico.

Musicalmente a canção não agradou muito ao resto de minha turma, principalmente em comparação a outras gemas musicais do álbum, como “Noite dos Mascarados”, “Com Açúcar e Com Afeto”, adorada pelas garotas, “Quem Te Viu, Quem Te Vê”, pois tinha uma andamento muito rápido e duração de pouco mais de um minuto, com uma letra longa e sem refrões de impacto, a não ser a frase que encerrava cada estrofe, “Porque é ano Novo”.

No meu caso, porém, a letra sempre chegava junto e com a mesma importância da melodia, daí eu ter gostado da mensagem que a letra trazia, já que até hoje sou um pouco avesso ao burburinho que cerca a chegada do “ano novo”.

Posteriormente, ao fazer uma busca em torno do título da canção, li em algum site de letras que a mesma havia sido gravada por Ana Carolina, entretanto não consegui encontrar álbum ou dvd, mesmo no site oficial dela, que contivesse alguma referência a “Ano Novo”. A mesma busca me mostrou várias outras canções com título igual ou fazendo referência, não revelando, entretanto, “Rancho do Ano Novo” de que muito gosto, da dupla Edu Lobo & Capinam.

Como disse o poeta Cacaso numa canção (já tocada em um post), “…o resumo é de cada um…”, principalmente a cada fim de ano, onde a necessidade de resumir tudo que se passou é mais forte do que as alegrias e tristezas sentidas, nos melhores ou piores momentos. Algo como uma tentativa de racionalização das emoções.

Que venha, afinal, o ano novo!

Ano Novo
(Chico Buarque)

chico_buarque-ano_novo.mp3

O rei chegou
E já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras
E eu que sou menino
Muito obediente
Estava indiferente
Logo me comovo
Pra ficar contente
Porque é Ano Novo

Há muito tempo
Que essa minha gente
Vai vivendo a muque
É o mesmo batente
É o mesmo batuque
Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque
E quem já viu de pé
O mesmo velho ovo
Hoje fica contente
Porque é Ano Novo

A minha nega me pediu um vestido
Novo e colorido
Pra comemorar
Eu disse:
Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa
Só lhe faz chorar
Eu disse:
Homem, tenha seu orgulho
Não faça barulho
O rei não vai gostar

E quem for cego veja de repente
Todo o azul da vida
Quem estiver doente
Saia na corrida
Quem tiver presente
Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo
Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso
Fique lá na frente
Pois vendo valente
E tão leal seu povo
O rei fica contente
Porque é Ano Novo

Filed under: Música — Um Barco @ 12:30 am

terça-feira, 10 julho 2007

Água de Meninos – Gilberto Gil

Escolher uma música para um post específico sobre música abre um imenso leque que vem de meu passado como que a refrescar meu presente. Uma preocupação é escolher uma canção que não seja muito conhecida ou fácil de conseguir, porque tiraria um pouco do espírito do post.

Quem já me lê desde os primórdios, sabe de minha origem baiana e de minha ligação com Salvador, mesmo tendo morado em Recife, na juventude, que foi onde ouvi “Água de Meninos” pela primeira vez em 1968, pela indicação de uma amiga que muito me influenciou em termos musicais e com quem, até hoje, mantenho um eventual contato.

A canção, a princípio, me causou alguma estranheza, pela natureza da letra, longa, que contava uma história que eu já conhecia e pela estrutura melódica fragmentada. Eu era um dos que freqüentava, com minha mãe e tias, a feira de Água de Meninos, típico comércio quase medieval, muito comum nas cidades do Nordeste e que ocupava uma grande área próxima ao cais do porto, do lado de depósitos de combustíveis e de um moinho de trigo.

Lembro-me da comoção de meus pais quando ouviram a notícia do incêndio da feira, inclusive da revolta deles, já que se dizia ter sido o incêndio obra das autoridades municipais que entendiam a feira como um obstáculo à modernidade que se pretendia para Salvador. Casualmente, uma moderna avenida, que existe até hoje, foi construída e passava no local da feira.

Hoje, próximo ao local, existe a feira de São Joaquim, herdeira da feira de Água de Meninos.

A letra de Capinam retrata, poeticamente, o que a feira representava e narra o ocorrido. A música de Gil ponteia, com perfeição, as diversas emoções que a canção desperta. É de 1966 e se encontra na álbum “Louvação” de 1967, que traz outras pérolas do início da profícua e duradoura carreira de Gil.

Água de Meninos
(Gilberto Gil e Capinam)

aguademeninos.mp3

Na minha terra, a Bahia
Entre o mar e a poesia
Tem um porto, Salvador
As ladeiras da cidade
Descem das nuvens pro mar
E num tempo que passou – ô ô ô
Toda a cidade descia
Vinha pra feira comprar

Água de Meninos, quero morar
Quero rede e tangerina
Quero o peixe desse mar
Quero o vento dessa praia
Quero azul, quero ficar
Com a moça que chegou
Vestida de rendas, ô
Vinda de Taperoá

Por cima da feira, as nuvens
Atrás da feira, a cidade
Na frente da feira o mar
Atrás do mar, a marinha
Atrás da marinha, o moinho
Atrás do moinho o governo
Que quis a feira acabar,
Que quis a feira acabar.

Dentro da feira, o povo
Dentro do povo, a moça
Dentro da moça, a noiva
Vestida de rendas, ô
Abre a roda pra sambar

Moinho da Bahia queimou
Queimou, deixa queimar
Abre a roda pra sambar

A feira nem bem sabia
Se ia pro mar ou sumia
E nem o povo queria
Escolher outro lugar
Enquanto a feira não via
A hora de se mudar
Tocaram fogo na feira
Ai, me dia, minha sinhá
Pra onde correu o povo
Pra onde correu a moça
Vinda de Taperoá?

Água de Meninos chorou
Caranguejo correu pra lama
Saveiro ficou na costa
A moringa rebentou
Dos olhos do barraqueiro
Muita água derramou

Água de Meninos acabou
Quem ficou foi a saudade
Da noiva dentro da moça
Vinda de Itaperoá
Vestida de rendas, ô
Abre a roda pra sambar

Moinho da Bahia queimou
Queimou, deixa queimar
Abre a roda pra sambar
Pra sambar… pra sambar…

Filed under: Música — Um Barco @ 10:49 pm

sexta-feira, 29 junho 2007

Viva Zapátria – Sirlan

Nas canções que escutava, dividia minha apreciação pela melodia, letra, harmonia e arranjo, nem sempre nessa ordem, mas prestando atenção a cada detalhe dessas partes. Como aprendiz de tocador de violão, naquele fim dos anos 60 e início dos 70, me deixei levar pelas harmonias rebuscadas e arranjos ricos e exóticos, principalmente nos festivais, onde cada cantor, compositor ou arranjador se esforçava para criar algo que o diferenciasse dos demais.

Quanto às letras, gostava muito das longas e rebuscadas. Em alguns festivais, houve, inclusive, a categoria de “melhor letra”, que teve ganhadores como “Um Dia”, de Caetano Veloso, “A Estrada e o Violeiro”, de Sidney Miller, para citar as que me lembro de cor.

Em particular, me fascinavam algumas músicas de protesto, pela mensagem que carregavam (quando podiam ser liberadas), algumas bastante disfarçadas, mas que atingiam seu alvo preferencial, a juventude universitária.

Viva Zapátria foi uma dessas canções que logo me atraiu pela letra e pela harmonia, em cujo arranjo original podia-se ouvir o harpejo de um violão com acordes invertidos de difícil execução, ou seja, tudo o que um aprendiz de tocador apreciava.

O título se prestava a várias interpretações, como, “vivas à pátria”, “viva Zapata, a pátria”, esta uma alusão, proposital, ao revolucionário mexicano.

O fato é que a canção foi inscrita no VII Festival Internacional da Canção, da TV Globo, em 1972. A letra era de Murilo Antunes e a música de Sirlan Antônio de Jesus. A história da inscrição no festival e dos desdobramentos com a censura, até poder ser liberada, merece ser lida. Deixo de publicar aqui por ser longa., porém ela é contada no livro “A Era dos Festivais”, de Ricardo Cravo Alvin e narrada, pelo próprio letrista, no site “Museu da Pessoa”, e pode ser vista neste link. É uma longa entrevista, em várias páginas mas o episódio, hilário em algumas passagens é contado, na que se abre (em nova janela), ao se clicar o link, bem como na página seguinte. Até Chico Buarque participou da verdadeira farsa que foi o convencimento dos censores para que liberassem a canção.

A música foi classificada para a final nacional, onde foi defendida por Sirlan, num arranjo semelhante ao que ouvem. Do conjunto que o acompanhou no festival, faziam parte Flávio Venturini e Beto Guedes, afinal Murilo Antunes era da “Turma da Esquina” e compositor de jóias posteriores, como “Nascente”.

A letra, para os que não viveram aquela época, pode parecer simples, mas cada frase que escapava do crivo da censura era bebida com prazer por quem ouvia, como mensagem de esperança e liberdade. Só para lembrar, “Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores” ficou em segundo lugar num festival cuja final foi em setembro 1968 e, logo a seguir, proibida, já que, em dezembro do mesmo ano, seria editado o AI-5, trazendo consigo uma série enorme de restrições às manifestações artísticas.

Apenas para arrematar, a carreira promissora do cantor e compositor Sirlan foi arruinada, por conta de perseguições por parte da censura.

Viva Zapátria
(Murilo Antunes e Sirlan)

vivazapatria.mp3

Esse meu sangue fervendo de amor
Aterrisam falcões, onde estou?
Carabinas, sorriso, onde estou?

Um compromisso a sirene chamou
Duplicatas, meu senso de humor
Se perdeu na cidade onde estou.

Viva Zapátria, saudou esse meu senhor
Beijos, abraços, ano um chegou
Salve Zapátria, ê, viva Zapátria, ê
Esta cidade foi uma herança só.

Viva Zapátria, saudando o senhor
Horizonte aberto onde estou
Esta América mãe onde estou.

Filed under: Música — Um Barco @ 6:32 pm
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