Um Barco

sábado, 29 maio 2004

Seria

Seria simples, cristalino, não fosse o que é
Seria alegre e, quem sabe, às vezes é, sem que se perceba
Seria profundo, não houvesse a dúvida
Seria contínuo na satisfação, se a vida assim o permitisse
Seria óbvio, não estivéssemos em busca do significado oculto
Seria um barato, um prazer, até mesmo um orgasmo, não fosse o medo
Seria a palavra aberta, seria a frase solta
Seria a troca, o compartilhamento e a cumplicidade
Seria o sorriso, daqueles de canto de lábio, calmo
Seria o riso aberto, a gargalhada
Seria o concreto, o objetivo, o percebido
Seria a introspecção, não fosse a nostalgia
Seria o debate e não a luta muda
Seria um solilóquio e não um lamento
Seria, talvez, uma maravilha, até seria
Mas não seríamos…

solace.mp3
Filed under: Poesia — Um Barco @ 9:26 am

terça-feira, 11 maio 2004

Rosa dos Ventos

Ao sul de meu tempo há um silêncio.
Ao norte, um grito mudo.
A leste, uma canção calada.
A oeste, aquilo que não cantarei.

A leste de meu coração há cinco dedos
Que falam mais que meu silêncio, há dores
Que gritam mais que minha solidão,
A leste de meu coração.

Na minha rosa-dos-ventos não há ventos,
Só lamentos, de um norte que não me dirige,
De um leste não vespertino,
De um oeste que me persegue, fugindo sempre do azul
Do silêncio de meu sul.

Ao sul de meu silêncio há uma lembrança,
Viva, como vivo é meu silêncio.
Ao norte de meu coração uma boca fechada
Ao norte de meu silêncio, mais nada.

Filed under: Poesia — Um Barco @ 8:45 pm

domingo, 2 maio 2004

Para alguém que quer ser musa…

Li
E nem me dei conta.
De ponta a ponta,
E passei da conta, mas ler eu quis.
E fiz de conta que não era
Hera me penetrando
Passando um amargo, um travo,
Cravo, lembrança
Herança, no coração, na mente.
Mentes, como os poetas, falsa.
Falsamente trazes verdades
E outros “ades”, como o trem
Que sobe serra, desce serra
E encerra em si todas as vidas.
Partidas sem destino,
Desatino, poeira ao vento,
Lamento, mais por não querer
Que ter, já que poder é!
Sem fé em mim, até sem jeito,
Pouco afeito às tramas do lirismo,
Mutismo de uma voz sem canção,
Sem criação, mente confusa.
Musa! Me ensine a chegar a ti.

Filed under: Poesia — Um Barco @ 10:58 pm

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