Um Barco

sábado, 31 março 2007

O Trem – Gonzaguinha

Esse artigo (ou post, como queiram) inaugura uma série dedicada à canção em si, ou seja, em vez da música servir de pano de fundo a algo que eu escrevi, ela é a razão de ser do artigo, embora, de algum modo, eu apareça como cenário, na medida em que a canção me tocou, quando a ouvi e, por isso, compartilho letra e música com que lê este blog.

Considerando a infinidade de sites e blogs sobre músicas, procurarei trazer em cada post com o rótulo “Música”, uma canção pouco conhecida ou mesmo difícil de ser encontrada.

A canção “O Trem”, de Gonzaguinha dos primeiros tempos, foi lançada em 1969, no II Festival Universitário da Música Brasileira, promoção da TV Tupi e da Secretaria de Educação da Guanabara e foi a vencedora do festival. Só para mostrar a importância dos festivais universitários, na época, o I Festival Universitário foi vencido por “Helena, Helena, Helena”.

Entre os concorrentes da segunda versão, alguns nomes, então desconhecidos, como Aldir Blanc (Escola de Medicina e Cirurgia), Ruy Maurity (Psicologia da PUC), César Costa Filho (Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas), Sueli Costa (Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora) e Luiz Gonzaga Nascimento Jr. (Economia da faculdade Cândido Mendes), entre outros. Tudo isso que escrevi, retirei do “LP” (que possuo, gravado em mono) do festival , lançado em 1969 pelo selo Companhia Brasileira de Discos, da PHILIPS.

Em se falando de festivais, o livro mais completo, e ainda em catálogo, é “A Era dos Festivais – Uma Parábola”, de Zuza Homem de Mello que, infelizmente, só cita o I Festival Universitário não trazendo nenhuma informação sobre “O Trem”.

A canção é amarga, em sua mensagem, aliás como eram as da primeira fase de Gonzaguinha. O arranjo inicial, gravado ao vivo no festival, era seco, fazendo jus à letra, diferente deste que está no post e que faz parte do album “Gonzaguinha da Vida”, de 1979. O interessante é que, nesse album, a canção tem o título ” Você se lembra daquela nega maluca que desfilou nua pelas ruas de Madureira? (O Trem)”, talvez para evitar mais um confronto com a censura, coisa muito comum com as canções dele, na época (vide o refrão “…você merece, você merece…”, de “Comportamento Geral, entre outras).

(Re)abrindo uma série de posts sobre músicas e músicos, eis “O Trem”, que deixou marcas muito fortes em mim, então um adolescente de 19 anos, com aqueles grilos existenciais típicos de um jovem da década de 60.

O Trem
(Gonzaguinha)

trem.mp3

Uma prece a quem passa, rosto ereto
Passo certo, olhar reto pela vida, amem!
Uma prece, uma graça, ao dinheiro recebido,
Companheiro, lado amigo, amem!
Uma prece, um louvor ao esperto enganador
Pela espreita e a colheita, amem!

Eia! E vai o trem num sobe serra, desce serra, nessa terra
Vai carregado de esperança, amor, verdade e outros “ades”
Tantos males, pra onde vai? Quem quer saber?

Sem memória e sem destino
Eu ergo o braço cego ao sol
De um mundo meu, meu só
Me reflito, o pé descalço, a mão na lixa
A roupa rota, o sujo, o pó, o pó, o pó.

Morte ao gesto de uma fome – é mentira!
Morte ao grito da injustiça – é mentira!
Viva em vera a igualdade, o valor.

Eia! E vai o trem…

Sob as luzes da cidade a cor alegre,
A festa, a vida ri sem fim
Nem meu dedo esticado traz um pouco o gosto
O doce e o mel pra mim, pra mim.

Viva o tempo sorridente que me abraça!
Viva o copo de aguardente que me abraça!
Morte ao trabalhador sem valor!

Eia! E vai o trem…

Uma prece, um pedido, um desejo concedido
A você na omissão, amem!
Uma prece, uma graça, pelo pranto sem espanto
E a saudade consentida, amem!
Uma prece um louvor, ao adeus, mão contra o vento
Na partida deste trem, amem!

Eia! E vai o trem…

PS: Deixo o link a seguir,
http://umbarco.blog.br/navegar/musicas/trem_original.mp3
para os que quiserem ouvir a versão ao vivo, gravada do II Festival Universitário de 1969.

Filed under: Música — Um Barco @ 11:20 am

quarta-feira, 28 março 2007

Poemias

Em abril de 2004 Um Barco foi ao mar. Alguns posts e meses depois, um site literário chamado “Poemias” enviou um convite para que lá eu publicasse poemas de minha autoria.

Isso ocorreu em setembro do mesmo ano e pouco durou. Encaminhei, em datas diferentes, dois pequenos poemas que foram publicados, mas se apagaram como Poemias também se apagou, com o fechamento do site. Ficaram adormecidos.

Relutei em republicá-los, mas faço-o agora, em silêncio.

O Muro

O muro está ali, eu o sinto.
E não vejo como ou porque
Deveria escalá-lo,
Já que nem é tão alto assim.
Mas é um muro, uma parede,
E eu preciso!
Nem quero saber porque ou como,
Mas preciso, sinto isso!
Saber do outro lado
Ainda que seja só para ver
A mim mesmo, tentando me encontrar.

 

O Medo da Morte

Nem é da morte o medo,
É o medo de mais não ser.
É ser, e tão apenas.
Se apenas viver, mais nada
É nada mais que um desejo,
É um desejo puro, forte,
Eu, forte mesmo não sendo,
É sendo fraco que irei.
É, irei à luta e verei
Morrer o medo da morte.

Filed under: Poesia — Um Barco @ 12:17 am

terça-feira, 20 março 2007

Fênix

leclochard.mp3

Reconstruir-me,
De cada pedaço de mim
Ainda que uma cópia.

Regenerar-me
A cada golpe recebido,
Como a cabeça da hidra.

Reencontrar-me
Com o mesmo sol,
Como se em outro planeta.

Pensar-me pleno
De tudo que teria,
Se houvesse a chance.

Perder-me do triste,
Como num labirinto
Para chegar ao riso.

Reescrever-me
Com as mesmas palavras,
Em muitas formas.

Repintar-me
De muitas cores,
Na mesma imagem de mim.

Renascer, límpido,
Das cinzas frias
De cada manhã.

Reacender o fogo
De toda emoção,
A cada segundo.

Saber-me novo,
Sentir-me novo,
Mesmo não sendo.

Imaginar-me eterno,
Nas palavras gravadas
Nos olhos que me lêem.

Filed under: Poesia — Um Barco @ 9:47 pm

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