Um Barco

sexta-feira, 29 junho 2007

Viva Zapátria – Sirlan

Nas canções que escutava, dividia minha apreciação pela melodia, letra, harmonia e arranjo, nem sempre nessa ordem, mas prestando atenção a cada detalhe dessas partes. Como aprendiz de tocador de violão, naquele fim dos anos 60 e início dos 70, me deixei levar pelas harmonias rebuscadas e arranjos ricos e exóticos, principalmente nos festivais, onde cada cantor, compositor ou arranjador se esforçava para criar algo que o diferenciasse dos demais.

Quanto às letras, gostava muito das longas e rebuscadas. Em alguns festivais, houve, inclusive, a categoria de “melhor letra”, que teve ganhadores como “Um Dia”, de Caetano Veloso, “A Estrada e o Violeiro”, de Sidney Miller, para citar as que me lembro de cor.

Em particular, me fascinavam algumas músicas de protesto, pela mensagem que carregavam (quando podiam ser liberadas), algumas bastante disfarçadas, mas que atingiam seu alvo preferencial, a juventude universitária.

Viva Zapátria foi uma dessas canções que logo me atraiu pela letra e pela harmonia, em cujo arranjo original podia-se ouvir o harpejo de um violão com acordes invertidos de difícil execução, ou seja, tudo o que um aprendiz de tocador apreciava.

O título se prestava a várias interpretações, como, “vivas à pátria”, “viva Zapata, a pátria”, esta uma alusão, proposital, ao revolucionário mexicano.

O fato é que a canção foi inscrita no VII Festival Internacional da Canção, da TV Globo, em 1972. A letra era de Murilo Antunes e a música de Sirlan Antônio de Jesus. A história da inscrição no festival e dos desdobramentos com a censura, até poder ser liberada, merece ser lida. Deixo de publicar aqui por ser longa., porém ela é contada no livro “A Era dos Festivais”, de Ricardo Cravo Alvin e narrada, pelo próprio letrista, no site “Museu da Pessoa”, e pode ser vista neste link. É uma longa entrevista, em várias páginas mas o episódio, hilário em algumas passagens é contado, na que se abre (em nova janela), ao se clicar o link, bem como na página seguinte. Até Chico Buarque participou da verdadeira farsa que foi o convencimento dos censores para que liberassem a canção.

A música foi classificada para a final nacional, onde foi defendida por Sirlan, num arranjo semelhante ao que ouvem. Do conjunto que o acompanhou no festival, faziam parte Flávio Venturini e Beto Guedes, afinal Murilo Antunes era da “Turma da Esquina” e compositor de jóias posteriores, como “Nascente”.

A letra, para os que não viveram aquela época, pode parecer simples, mas cada frase que escapava do crivo da censura era bebida com prazer por quem ouvia, como mensagem de esperança e liberdade. Só para lembrar, “Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores” ficou em segundo lugar num festival cuja final foi em setembro 1968 e, logo a seguir, proibida, já que, em dezembro do mesmo ano, seria editado o AI-5, trazendo consigo uma série enorme de restrições às manifestações artísticas.

Apenas para arrematar, a carreira promissora do cantor e compositor Sirlan foi arruinada, por conta de perseguições por parte da censura.

Viva Zapátria
(Murilo Antunes e Sirlan)

vivazapatria.mp3

Esse meu sangue fervendo de amor
Aterrisam falcões, onde estou?
Carabinas, sorriso, onde estou?

Um compromisso a sirene chamou
Duplicatas, meu senso de humor
Se perdeu na cidade onde estou.

Viva Zapátria, saudou esse meu senhor
Beijos, abraços, ano um chegou
Salve Zapátria, ê, viva Zapátria, ê
Esta cidade foi uma herança só.

Viva Zapátria, saudando o senhor
Horizonte aberto onde estou
Esta América mãe onde estou.

Filed under: Música — Um Barco @ 6:32 pm

10 Comments

  1. Tenho a felicidade de conhecer o Cantor/compositor SIRLAN, ser humano de profunda sensibilidade,de inteligência impar,possuidor dos mais profundos conhecimentos musicais e intelectuais,dono de uma belíssima voz, de capacidade criativa harmônica, digno de ser espelhado por nossa juventudade e por todos os seres humanos que habitam esta terra. Minha nota para ele é MIL!!!!

    Comentário by Edina Mendes — domingo, 8 julho 2007 @ 7:16 pm

  2. Ouvi SIRLAN repetidas vezes. VIVA ZAPÁTRIA é uma letra difícil, nota-se que é necessário muito talento para executá-la, música belissíma que empolga a alma, faz com o desejo de ouví-la seja repetido. Parabéns a Um Barco por deixar que tenhamos VIVOS os CANTORES DE VERDADE e que possamos voltar ao tempo em a música era um acalento para a alma e não um triste desalento como as de hoje em dia. Desejo ao SIRLAN muito sucesso e que ele volte à carreira e ao público, pois é de gente grande como ele que A MÚSICA BRASILEIRA precisa.

    Comentário by Anelis Fabiana Oliveira — quarta-feira, 11 julho 2007 @ 11:12 pm

  3. QUERIDO Y ESTIMADO SIRLAN, CONOZCO A VC POR MI MAS GRANDE AMOR, EDINA, MUY AMIGA SUYA, ELLA ME CONTO MUCHO DE VC Y AGRADEZCO MUCHO A VC POR TODO SU COMENHTARIO HACIA MI PERSONA, ME SIENTO MUY PERO MUY AFORTUNADO POR EL HECHO DE CONTAR CON VC COMO AMIGO, UNA CELEBRIDAD DE MI MAS QUERIDO BRASIL. ESPERO QUE VUELVA A CANTAR A TODAS LAS GENERACIONES QUE PIDEN DE VC, PORQUE COMO VC SABRA EL PÚBLICO SE RENUEVA, LA GENTE SE RENUEVA Y LOS CANTANTES SIEMPRE ESTAN VIGENTE, Y VUELVO A REPETIR MAS VC, SIRLAN, UN HOMBRE QUE COMO CAETANO VELOSO HAN ESCRITO LA HISTORIA MUSICAL Y POETICA DE BRASIL !!!!
    GRACIAS SIRLAN Y DESDE ARGENTINA, UN ABRAZO DE HERMANO Y UN FUTURO BRASILERO. LUIS PROVENZANO, rio segundo, córdoba, argentina !!!

    Comentário by LUIS HECTOR PROVENZANO — segunda-feira, 30 julho 2007 @ 6:40 pm

  4. Sinto-me triste por somente agora, aos 37 anos de idade, entrar em contato com essa voz, essa inteligência em letra e música.
    Meu diagnóstico é que a censura nos fez perder mais do que imaginamos… O Brsil perde ao tolher uma criatura como Sirlan, eu perdi, pois carrego uma erança castradora dentro de mim, que não me faz buscar além do que o que a mídia divulga (di “vulgar”), esse seria o verbo correto para o sistema globalizado de telecomunicação.
    Talvez tardio, mas mesmo assim ainda sai o brado retumbante de meu peito, “hoje Sirlan ganha mais um fã, mais um aliado”.
    A censura ainda está entre nós, dizendo o que devemos comprar o que consumir e escondendo o que temos de melhor.

    Beijos e carinho a todos,
    Armando

    Comentário by Armando Junior — quarta-feira, 3 setembro 2008 @ 4:45 pm

  5. que pérola maravilhosa eu reencontro!!!
    Baixei várias canções.
    Que Luz intensa e harmônica!
    Onde andará SIRLAN?
    Se puder, entre em contato comigo!
    Vibrações Positivass!!!!!
    http://www.zellusmachado.net

    Comentário by Zéllus — domingo, 17 maio 2009 @ 11:35 pm

  6. Sirla, uma das vozes mais preciosas e inesquecíveis. Viva Zapátria é um trans-hino de uma força libertária extraordinária!
    beijo em seu coração Sirlan, aonde quer que voce se encontre.
    Carlos Walker

    Comentário by Carlos Walker — terça-feira, 11 agosto 2009 @ 12:23 pm

  7. Prezado

    Agradeço a postagem da canção. Tenho apenas 24 anos, não vivi nada disso, mas, curiosa que sou, gostaria de ter acesso às cifras desta música, acaso seja possível disponibilizá-la.

    Abraços, C.

    Comentário by Clarissa — quinta-feira, 11 fevereiro 2010 @ 6:49 pm

  8. Gstaria de saber onde anda este monstro sagrado da MPB,quando o conheci eramos vizinhos na rua Niteroi em Santa Efigenia, encontravamos quase todos os dias para falarmos de musicas, sou compositor e também fui censurado com vários trabalhos, foi na casa do Sirlan que tive contado com varios artistas, ele é um cara especial quero deixar aqui um forte abraço e muitas saudades. Edmar Resende.

    Comentário by EDMAR RESENDE — domingo, 28 fevereiro 2010 @ 12:19 am

  9. Tenho o disco profissão de fé do grande cantor Sirlan. Ouvi muito na época do lançamento e ouço até hoje,
    é uma obra que o tempo não apaga nunca.
    Por onde anda o Sirlan?
    VIVA ZAPÁTRIA.

    Comentário by joão martins — quarta-feira, 17 março 2010 @ 10:29 am

  10. Tempo muita admiração por Sirlan, tanto que tenho o LP do Festival (contendo “Viva Zapátria”) e o LP PROFISSÃO DE FÉ. Gostaria de saber onda anda Sirlan, e também se o conteúdo do LP foi lançado em CD. Lamento muito que este belíssimo músico e compositor tenha tido tanta falta de sorte. Meu grande respeito a ele.

    Comentário by Valdir Montanari — sábado, 1 maio 2010 @ 8:24 am

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