Quando pensei em escrever algo musical sobre o ano novo, a primeira canção em que pensei foi, justamente, esta que dá título ao presente post.
Fez parte do segundo álbum de Chico Buarque, “Chico Buarque de Hollanda – Vol.2”, lançado em 1967. Sobre o álbum, podem ler o que o próprio Chico escreveu, em junho de 1967, em seu site.
Na época, a cada lançamento de disco de algum dos grandes, como Chico, Edu Lobo, entre outros, os tocadores de violão e aprendizes (categoria em que me inscrevia) procuravam, o mais rápidamente possível, aprender as harmonias, para tocar nas rodas das turmas de bairro, minha formação e consolidação estético-musical. E não foi diferente com o segundo e esperado “LP” do Chico.
Musicalmente a canção não agradou muito ao resto de minha turma, principalmente em comparação a outras gemas musicais do álbum, como “Noite dos Mascarados”, “Com Açúcar e Com Afeto”, adorada pelas garotas, “Quem Te Viu, Quem Te Vê”, pois tinha uma andamento muito rápido e duração de pouco mais de um minuto, com uma letra longa e sem refrões de impacto, a não ser a frase que encerrava cada estrofe, “Porque é ano Novo”.
No meu caso, porém, a letra sempre chegava junto e com a mesma importância da melodia, daí eu ter gostado da mensagem que a letra trazia, já que até hoje sou um pouco avesso ao burburinho que cerca a chegada do “ano novo”.
Posteriormente, ao fazer uma busca em torno do título da canção, li em algum site de letras que a mesma havia sido gravada por Ana Carolina, entretanto não consegui encontrar álbum ou dvd, mesmo no site oficial dela, que contivesse alguma referência a “Ano Novo”. A mesma busca me mostrou várias outras canções com título igual ou fazendo referência, não revelando, entretanto, “Rancho do Ano Novo” de que muito gosto, da dupla Edu Lobo & Capinam.
Como disse o poeta Cacaso numa canção (já tocada em um post), “…o resumo é de cada um…”, principalmente a cada fim de ano, onde a necessidade de resumir tudo que se passou é mais forte do que as alegrias e tristezas sentidas, nos melhores ou piores momentos. Algo como uma tentativa de racionalização das emoções.
Que venha, afinal, o ano novo!
Ano Novo
(Chico Buarque)
O rei chegou
E já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras
E eu que sou menino
Muito obediente
Estava indiferente
Logo me comovo
Pra ficar contente
Porque é Ano Novo
Há muito tempo
Que essa minha gente
Vai vivendo a muque
É o mesmo batente
É o mesmo batuque
Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque
E quem já viu de pé
O mesmo velho ovo
Hoje fica contente
Porque é Ano Novo
A minha nega me pediu um vestido
Novo e colorido
Pra comemorar
Eu disse:
Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa
Só lhe faz chorar
Eu disse:
Homem, tenha seu orgulho
Não faça barulho
O rei não vai gostar
E quem for cego veja de repente
Todo o azul da vida
Quem estiver doente
Saia na corrida
Quem tiver presente
Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo
Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso
Fique lá na frente
Pois vendo valente
E tão leal seu povo
O rei fica contente
Porque é Ano Novo