“Eu queria ser uma ameba”, ela disse.
Na ocasião, a frase até que se encaixou e era apropriada ao contexto do papo, que versava sobre coisas como, ser o que se é, ser o que os outros pensam, ser a imagem que os outros fazem, ou seja, papo-cabeça, daqueles que exigiriam não um frio MSN Messenger, mas uma mesa de bar à beira da praia, chopes, etc.
No dia seguinte, que por acaso é hoje, me pus a meditar sobre a profundidade daquela frase, e pensei numa ameba. Vocês já viram fotos ou desenhos de amebas. Aquele “bicho” microscópico, informe, de aparência gelatinosa, cujo referente mais próximo seria, talvez, uma água-viva daquelas esbranquiçadas que aparecem justamente no verão, quando freqüentamos as praias, para encher nossa paciência e causar irritações.
Chegando em casa, lá fui eu buscar uma ameba nos “googles” da web. Pensei até em consultar meu filho, formado em biologia, afinal, mesmo metaforicamente, a frase representava um questionamento autocrítico, quase uma angústia existencial, mesmo sendo dita em tom de brincadeira.
Tudo bem que eu já conhecia algo, mas queria impressionar os leitores deste blog com meus vastos conhecimentos (de aluguel, é claro). Li que a palavra “ameba” vem do grego e significa “mudança”. Vi uma microfotografia, vi até um filmete. E lá estava ela, pseudópodes, ou falsos pés (seria algo como um “scarpin”?), a mutação constante de forma (inconstância?), a capacidade de envolver os alimentos ou presas para englobá-los em seu seio e assimilá-los (sedução?).
E pensei, “peraí!” (desculpem a grafia, mas é assim que a gente pensa). Isso nós já somos! Usamos sapatos e roupas diferentes, nos aproximamos das “presas” e tentamos “envolvê-las” em tentáculos de encanto.
E a luz se fez em mim. Somos todos amebas! Pronto, caríssima amiga, você já é tudo, até e inclusive uma “ameba”. Com a ressalva que nem tudo é o que parece mas tudo pode ser, desde que queiramos ver.
Bem, só faltava a música para o post, afinal quase todos os meus posts possuem uma. E essa foi fácil, se eu me ativesse ao atributo “mudança” que, afinal, dá à ameba seu nome.
Metamorfose Ambulante
(Raul Seixas)
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor,
Sobre que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor, lhe tenho horror, lhe faço amor, eu sou um ator
É chato chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor,
Sobre que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor, lhe tenho horror, lhe faço amor, eu sou um ator