Não me perguntem, não saberia explicar. De repente, não menos que de repente, já que o acaso (e sua companheira, a necessidade) é forte o bastante para predominar sobre o estudado, o pensado, o premeditado, me veio à mente os “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, de Roland Barthes.
E me vejo reabrindo o livro, folheando-o, já pensando num post para um blog esquecido por sete dias.
E a cada leitura me espanta constatar que palavras escritas ou pelo menos publicadas em 1977 possam ser tão bem contextualizadas na comunicação virtual de 2004, as salas de chat e os programas de comunicação instantânea.
E deixo alguns fragmentos dos “Fragmentos”, ao som de uma música que, não por acaso, tem o nome de “Bard” (bardo).
“A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras. Minha linguagem treme de desejo. A emoção vem de um duplo contato: de um lado, toda uma atividade de discurso vem, discretamente, indiretamente, colocar em evidência um significado único que é “eu te desejo”, e liberá-lo, alimentá-lo, ramificá-lo, fazê-lo explodir (a linguagem goza ao tocar a si mesma); por outro lado, envolvo o outro nas minhas palavras, eu o acaricio, o roço, me esforço em fazer durar o comentário ao qual submeto a relação “.
“Uma força precisa arasta minha linguagem em direção ao mal que posso fazer a mim mesmo: o regime motor de meu discurso é a roda livre, a linguagem vai girando, sem nenhum pensamento tático da realidade.”
“Apesar de o discurso amoroso não ser mais do que uma nuvem de figuras que se agitam segundo uma ordem imprevisível, como as trajetórias de uma mosca no interior de um quarto, posso atribuir ao amor, pelo menos retrospectivamente, imaginariamente, uma progressão regrada; é por esse fantasma histórico que por vezes o transformo em uma aventura.”
bard.mp3