Qualquer hora o tempo cai
Como uma vontade atrasada,
Mentira desmascarada,
Que nem quarta-feira de cinzas,
Lua cheia, delírio real.
E vai ser como uma enchente,
Inundando a vida com dias,
Misturando instantes, momentos,
Estantes de velharias, modernas
Lembranças, crescente.
E a fantasia, nova, escondida,
Enfim escancarada, explode, solta
Nos rostos risadas, palhaças,
Deformando dores, tristezas
Em prazeres, belezas, falsas.
Numa mistura estranha,
De mente e coração, há vida
Inteligente no peito, que mente,
E nem se enxergava, antes,
Não percebia, só mandava.
E o que parecia, não é
Senão a sombra atirada
No chão, descartada, minguante
De toda penumbra, de luz
No corpo desenhada, sem fé.
No fim do túnel, esperança
Nem há, nem túnel tem, fim
Do instante, da fase, da hora
Emprestada, imposta, imprestável
Alegoria, findou.
Qualquer tempo, chega o fato,
Como uma ressaca curtida,
Verdade de novo assumida
Como primeiro de abril,
Depois que acaba, resta a vida.
Olha a Lua
(John Neschling & Geraldo Carneiro)
Olha a lua
Minha doida
Minha triste colombina
Conta por que sofres tanto assim
Será que é pouca
A minha alma louca de arlequim
Dentro de mim
Um sonho danado de viver embriagado
Pelo lado avesso
Olha a lua
Antes que ela vá pra trás do edifício
Não, não tenha medo de falar do teu segredo
De contar, na escuridão
As penas do teu coração
Pensa na dor que mora em mim
Fatal
Sem começo e sem fim
Eu só quero te encontrar
Pra te ver e te amparar
Olha a lua
Minha doida
Minha colombina lua
Sofre a tua negra solidão
E sonha fundo
Porque esse mundo é feito de ilusão
O teu coração é um pouco demente
E a loucura da gente não tem céu nem inferno
Olha a lua
Minha doida
Minha colombina lua
Não, não tenha medo de falar do teu segredo
De contar na escuridão
As penas do teu coração