Agora percebo
Se não claramente,
Mais facilmente, mais forte,
A presença fria e muda
Da soma de meus silêncios,
Da diferença de meus tempos,
Meus quantos, meus quases,
Meus já não distantes limites,
Meu cálice de anseios,
Meu pão que não sacia
Embora ainda queira
Ir, embora, do que não sou.
Agora, só agora…
Mas ainda cedo bastante
Para emergir dos sonhos fáceis,
Do sorriso contumaz e frio,
Das comparações vazias,
De tudo que se mostra óbvio,
Justamente por não ser, não passar
De mera percepção, imagem
Revelada na consciência,
Irrealidade subjetiva, falsa,
Tão forte e por tanto tempo
Que nada deixou, senão ausência.
Agora sim, sinto
Se não tão fortemente,
Mais docemente, mais mansa,
A ausência morna e gritante
Dos sonhos do ontem, bem longe.
A realidade vizinha, amiga,
Da soma de meus futuros,
Meus parcos, meus muitos,
Meus poucos, meus todos
Instantes ainda ativos, plenos,
Vívido cenário, vivo, presente.
Vivo mais, ainda mais vivo.
O Jeito de Viver
(Sá & Guarabyra)
Eu ainda sou aquele sonhador
Desculpe se o que sinto é muito antigo
Desculpe o que eu fizer que é por amor
Eu ainda vivo no mundo da lua
Fazendo planos simples pro futuro
Eu na verdade sou um menestrel medieval
Assombrado por imagens de televisão
Assustado pelas coisas que acontecem
Dentro do meu coração
Por isso eu penso que essas coisas
Não deviam ser como elas são
Eu ainda estou querendo descobrir
Um jeito de mostrar meu sentimento
Um jeito claro e simples de viver
Sem precisar fingir