Águas não passam. Escoam, resvalam, encharcam, meio assim como as ondas de melancolia que louvam a tristeza e levam a paz, aquela paz crônica, embora esquecida, encruada, reprimida mas nunca contida o suficiente para ficar quieta no fundo da memória aparentemente enganada.
Águas passadas movem moinhos de lembranças, alguns dos quais escondidos, abandonados, até o instante em que um gatilho qualquer dispare aquele traço de memória que, contra nossa vontade, abre comportas e fazem a roda girar, moendo nosso silêncio, revivendo ruídos, mostrando caminhos não percorridos, decisões não tomadas, arrependimentos cristalizados.
Nossos caminhos são nossos destinos de cada momento. Nossos momentos são nossa direção, a cada contato. Nossos contatos são nosso alimento, a cada vontade. Nossa vontade é uma bússola que nunca aponta o norte de nossa necessidade. Resvala rápido sem que se possa capturar o rumo certo.
E, como na canção, mágoas antigas não passam, como as águas que passam, como o tempo que passa. Resta sorrir, suportando.
Águas Passadas
(Eduardo Gudin & Roberto Riberti)
Bem te queria poupar,
Não falar dessa dor traiçoeira
Mas como calar quando dessa maneira
A tristeza vem me atormentar,
Mas pra que te magoar.
Se nem sei se será passageira
Ou terei que fugir, que sofrer, que chorar
Ou só terei que ver essa onda me levar
Eu só queria poder separar
Nosso amor dessa antiga ferida
Prá não machucar um começo de vida
E assim te sentir me levar e poder descansar
O meu corpo e minha alma sofrida
E sorrir sem lembrar, sem trair, sem negar
E assim só me deixar te viver e navegar
Eu gasto a vida e não vou entender
Que a mágoa antiga não vai se curar
E nada vai lhe conter
Terei que só suportar
Esperar, conservar um sorriso no olhar.
Não suporte…Sorria enfrentando aquela onda que está chegando e você não tem para onde fugir.
Vá até ela… mergulhe… sinta-a passar por cima da sua cabeça…
E quando você se erguer, verá que ela arrebentou na praia… acabou… passou.
Outras ondas virão… e como você já passou por essa e outras, vai se sentindo cada vez mais seguro.
Mais confiante…certo que elas passarão por você, e você por elas.
E quando, lá longe no mar, você se sentir cansado de enfrentar tantas ondas,
comece a aproveitá-las para levá-lo de volta à praia.
Faça delas suas aliadas… elas te levarão em segurança à beira-mar…
E se faltar um pouquinho ainda para chegar, e você não tiver mais fôlego,
observe que lá na beira-mar tem uma mão estendida,
pronta para te puxar para fora do mar…
Comentário by Márcia — segunda-feira, 7 junho 2010 @ 7:47 pm
Consegui!
Espaço super bem concebido e sensível.
LB
Comentário by Anônimo — quarta-feira, 9 junho 2010 @ 12:27 am
Andei por todas suas publicaçoes. Adorei d+. Vc. acredita q achei aqui uma musica que não canto há anos? Desencontro (em cada por do sol). Obrigada!
Comentário by NÔ — quinta-feira, 1 julho 2010 @ 4:52 pm
Mais uma vez não posso deixar de te dizer como é bom saber que ainda existem pessoas com tanta sensibilidade. Você é assim, tem o dom de poder, mesmo de longe, virtualmente, transmitir seus sentimentos e confortar quem esteja precisando, com palavras e músicas que transpõem as barreiras do tempo. Não deixa esta sensibilidade continuar “adormecida”, nós todos precisamos dela muito viva! Navegar aqui é uma terapia para a alma.
Comentário by Angela Thompson — domingo, 8 maio 2011 @ 3:56 am