Um Barco

segunda-feira, 23 agosto 2004

Mar Grande

Nem sempre se escolhe o caminho.
Quando se escolhe, nem sempre é o melhor
Por mais que pareça, e nunca é demais
Quando muito, é o que é
E é tudo que se tem, opção.

Estradas,
Curvas escondidas, retas monótonas, cotidianas
Ladeiras íngremes, descidas velozes, emoções.
Trilhos, urbanos na maioria,
Desencontrados e curtos,
Estações, momentos, finais de linha, destino.

Mares, caminhos ondulados
Altos e baixos, calmarias e ondas,
Vagas, numa vida vaga
Sol e chuva, canto, pranto, cantochão.
E se vaga, navega,
E se espera, desespera
E se anda, desanda
E se inflama, chama, ama
E se chega.
Onde?

 

Mar Grande
(Paulinho da Viola e Sérgio Natureza)

margrande.mp3

Se navegar no vazio
É mesmo o destino do meu coração
Parto pra ser esquecido
Navio perdido na imensidão

Lobo do mar, timoneiro
Me leve pro sol, quero outro verão
Não quero mar de marola
Das praias da moda na rebentação

Quero mar alto, o mar grande
Por favor não me mande de volta mais não
Não quero o cais, outro porto,
Não mais o mar morto da minha ilusão

Prefiro ir à deriva
Me deixe que eu siga em qualquer direção
Se eu sou de um rio marinho
O mar é meu ninho, meu leito e meu chão

Filed under: Música,Poesia — Um Barco @ 9:14 pm

sábado, 31 julho 2004

Quem…

Quem, só por mim, viverá?
Quem, quando eu precisar?
Quem de mim cuidará?
Quem, no instante exato, me verá?
Quem, na hora devida, me lerá?
Alguém
Ninguém
Porém
Lerei, devido à hora, a quem
Verei, num instante, e já além.
Irei, quando alguém me quiser,
Mas viverei só, por mim.
Sobre[tudo]viverei…somente.

Filed under: Poesia — Um Barco @ 2:21 pm

sábado, 29 maio 2004

Seria

Seria simples, cristalino, não fosse o que é
Seria alegre e, quem sabe, às vezes é, sem que se perceba
Seria profundo, não houvesse a dúvida
Seria contínuo na satisfação, se a vida assim o permitisse
Seria óbvio, não estivéssemos em busca do significado oculto
Seria um barato, um prazer, até mesmo um orgasmo, não fosse o medo
Seria a palavra aberta, seria a frase solta
Seria a troca, o compartilhamento e a cumplicidade
Seria o sorriso, daqueles de canto de lábio, calmo
Seria o riso aberto, a gargalhada
Seria o concreto, o objetivo, o percebido
Seria a introspecção, não fosse a nostalgia
Seria o debate e não a luta muda
Seria um solilóquio e não um lamento
Seria, talvez, uma maravilha, até seria
Mas não seríamos…

solace.mp3
Filed under: Poesia — Um Barco @ 9:26 am

terça-feira, 11 maio 2004

Rosa dos Ventos

Ao sul de meu tempo há um silêncio.
Ao norte, um grito mudo.
A leste, uma canção calada.
A oeste, aquilo que não cantarei.

A leste de meu coração há cinco dedos
Que falam mais que meu silêncio, há dores
Que gritam mais que minha solidão,
A leste de meu coração.

Na minha rosa-dos-ventos não há ventos,
Só lamentos, de um norte que não me dirige,
De um leste não vespertino,
De um oeste que me persegue, fugindo sempre do azul
Do silêncio de meu sul.

Ao sul de meu silêncio há uma lembrança,
Viva, como vivo é meu silêncio.
Ao norte de meu coração uma boca fechada
Ao norte de meu silêncio, mais nada.

Filed under: Poesia — Um Barco @ 8:45 pm

domingo, 2 maio 2004

Para alguém que quer ser musa…

Li
E nem me dei conta.
De ponta a ponta,
E passei da conta, mas ler eu quis.
E fiz de conta que não era
Hera me penetrando
Passando um amargo, um travo,
Cravo, lembrança
Herança, no coração, na mente.
Mentes, como os poetas, falsa.
Falsamente trazes verdades
E outros “ades”, como o trem
Que sobe serra, desce serra
E encerra em si todas as vidas.
Partidas sem destino,
Desatino, poeira ao vento,
Lamento, mais por não querer
Que ter, já que poder é!
Sem fé em mim, até sem jeito,
Pouco afeito às tramas do lirismo,
Mutismo de uma voz sem canção,
Sem criação, mente confusa.
Musa! Me ensine a chegar a ti.

Filed under: Poesia — Um Barco @ 10:58 pm
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