Segunda, 19/12/2005

Ecos

Conforme relatei no post anterior, estive pensando e informei que pensaria ainda mais numa continuação que girasse em torno de letras de músicas que ouvi, ao longo dessas duas últimas semanas.

Tenho uma natureza irregularmente cíclica, no que se refere a interesses imediatos, que transformo ou tento transformar em projetos ou ações. A freqüência de cada ciclo pode variar de dias a meses, enquanto meus interesses vão fazendo uma espécie de "tour" por aquilo que me atrai.

Atualmente, e isso já dura quase um mês, atravesso (mais uma vez) a fase de garimpo por músicas e álbuns antigos, em especial da década de 60 ou até um pouco antes, englobando a bossa nova. Cada artista ou grupo que redescubro, cantando determinadas canções, me remete à época e aos acontecimentos representativos de pedaços do meu passado. Assim ocorreu com a Brazuca, conforme relatei no post anterior, continuando no post de hoje.

"...quero amor puro e sem gelo, sem jeito de mentir. Quero som mais forte e puro, de graça e sem pedir. Cheirando a chiclete, com charme de lenço, sabor hortelã...". Essa música, com o título de "Futilirama" era cantado pela Brazuca, grupo criado pelo pianista Antonio Adolfo. Quem foi, pelo menos, adolescente na época vai se lembrar, talvez não dessa, em particular, mas de outras que transcreverei abaixo. Estávamos em 1969, em meio a turbulências de toda ordem, políticas, estéticas, sociais, ideológicas, pouso na lua, psicodelismo, liberação sexual.

Uma das músicas mais conhecidas do grupo começava com um pequeno volteio de piano elétrico e coro de metais até a entrada das vozes femininas cantando "...num fim de tarde, meio de dezembro, ainda me lembro e posso até contar, o sol caia dentro do horizonte, Juliana viu o amor chegar...", "...botão de rosa, perfumosa e linda, tão menina ainda a desabrochar pelos canteiros do amor primeiro viu chegada a hora de seu despertar...", uma descrição, até delicada, do primeiro amor de uma moça, "...e Juliana então se fez mullher e Juliana viu o amor chegar...".

"...corro, rompendo laços, abraços, beijos, em cada passo é você quem vejo, num telespaço, pousado em cores no além..." cantava a Brazuca em "Teletema" outra canção que fez muito sucesso. Interessante como o telespaço imaginado na época hoje é, para muitos, o ciberespaço da internet.

"....mundo confuso, é um parafuso, moda de gente em moda...", "...danço contente, entre essa gente que se colore em flash, que se contorce, que se distorce, como um robô se mexe...", não muito diferente de hoje em dia, com as "Caras" e as raves.

E passou 1969 e passou a Brazuca, sem ter repetido, nem o som nem o sucesso do primeiro álbum. Restaram alguns ecos em 1970, em festinhas, dada a natureza dançante de algumas músicas.

Apenas um traço de memória, um fiapo de lembrança entre tantas pontas soltas da tapeçaria de minha vida. Mas foi gostoso reviver tudo isso e, quebrando um pouco a linha instrumental das músicas de fundo dos posts, compartilho com vocês a Brazuca e Teletema.


Escrito por Um Barco às 20h52


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