Terça, 13/12/2005

Pensando...

Somente um domingo chuvoso e frio, após um sábado de sol forte, seguido de uma chuva que durou boa parte da noite, para fazer pensar em qualquer coisa que fuja ao dia-a-dia. Até mesmo pensar na conveniência de pensar. E tive tempo para pensar. E pensei.

Ontem, a segunda-feira manteve o irracional de uma paisagem de neblina, chuvosa e fria, num Rio de Janeiro sobre o qual foi dito, entre outras coisas, que "...é sal, é sol, é sul...". Melhorou, um pouco, à tarde, mas brincou de Sampa, à noite, com um arremedo de garoa e neblina baixa. Tempo cariocamente gozador.

Hoje, a terça-feira amanheceu gloriosa, carioca, sol, canto de cigarras, calor. Talvez por isso, ou apesar disso, sento-me e ordeno idéias de uma semana, para traduzir num post leve e com a cor de algumas referências minhas. Enquanto escrevo as nuvens nublam o dia, mas não minha leveza.

Pensando bem, pensar é uma ação que engloba um espectro amplo, do involuntário ao emocional. Pensar é um desencadeador de emoções ou supressor delas. Pensar desperta memórias de tempos que, quando eram presente, eram aceitos ou vividos como se fossem (e eram) comuns mas que hoje, na condição de passado, passam a ter uma importância própria e vinculada a determinadas situações.

Pensei na semana que passou e em alguns fatos que me fizeram pensar. Pensar no que pensei é mais inofensivo do que pensar no que senti e mais ainda do que sentir porque pensei. Mas nunca se está livre, de uma maneira ampla, do sentir a cada pensar, mesmo que seja (como agora) um sentimento leve, suavemente acridoce.

Há períodos mais ou menos emocionais, geralmente menos ou mais racionais, numa espécie de reciprocidade reversa ou inversa. Casualmente, me sinto (ou seria me penso?) mais racional e, como tal, mais analítico, mais eu, menos que eu, talvez. Essa divagação, quase um solilóquio, já é um pensar transverso, em torno de uma reflexão morna, mas nem por isso pouco profunda ou totalmente desprovida de emoção.

Semana passada, coisa rara, estava eu em um ônibus, sete horas da noite, com tudo o que isso implica, em termos de estresse. Calor, engarrafamento, fome, saindo de uma consulta onde esperei séculos (subjetivos, claro) para ser atendido. Eu havia levado um tocador de mp3 com algumas músicas antigas, das décadas de 60 e 70.

Não é por ter ouvido, simplesmente, as músicas. Foi o momento, o contexto. Eu, num ônibus, indo da Tijuca ao Flamengo, num Rio de Janeiro quase crepuscular. Dos fones começou a jorrar o som do piano metálico, inconfundível, de Antonio Adolfo e a Brazuca, me remetendo a 1969.

"...dentro da cidade a noite cai, entre luzes brancas de neon...", cantou a Brazuca para mim, naquele momento, e eu esqueci de tudo que não fosse minha juventude, meus 19 anos e minha alegria em estar revivendo aquilo, até e inclusive as viagens de ônibus que eu também fazia por esse mesmo Rio de Janeiro em 1969.

E pensei em compartilhar a lembrança, daí este post, prelúdio para outro, em torno das letras das músicas que ouvi. Mas ainda vou pensar...


Escrito por Um Barco às 15h24


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