Sexta, 07/07/2006

Troca de Pele ou Fechado pra Balanço

Não chega a ser propriamente um recorde, eu passar mais de um mês sem postar aqui neste espaço já desabitado do universo blogueiro. O último post é datado de 02 de junho e estou reabrindo hoje, não por acaso uma sexta-feira, dia que, particularmente, muito aprecio e que, por conta de minha rotina de vida é o mais apropriado para que eu escreva e publique meus posts.

Todo esse tempo eu estava, como uma querida amiga bem definiu, trocando de pele ou, como meu conterrâneo Gil de maneira tão otimista e apropriada expõe, na música que ouvem ou cuja letra lêem ou ambos, estava "fechado pra balanço". A música de fundo até tem a ver, a posteriori, com o contexto do post, embora devesse já estar no ar, como uma espécie de justificativa meio amarela.

Acho que vocês sabem a que me refiro. Alguns animais, répteis e insetos principalmente, por questão de crescimento e outros fatores, trocam de pele e, para isso, passam por fases que os tiram da rotina, até a conclusão do processo. Pessoas às vezes não cabem mais em si mesmos, de tristeza, de alegria, enfim, como que transbordam de si próprios.

A solução para ambos é descartar a pele antiga e, durante algum tempo, se esconderem, até que a nova se acostume com o contato com o exterior, que pode ser penoso, por conta da sensibilidade da pele nova. Nesse ínterim, o animal se enfurna em algum local protegido, até que possa de novo interagir com o mundo exterior e enfrentar seus perigos. Nesse mesmo ínterim, nos recolhemos às nossas cavernas interiores, agindo mecanicamente e deixando de (ou evitando) pensar, sentir, externar, pelo menos de uma forma mais intensa.

Talvez tudo o que escrevi seja uma desculpa esfarrapada para uma crise de falta de talento (que já não é lá muito). Talvez eu esteja tentando (inutilmente) me convencer que não postei porque eu precisava me "redefinir esteticamente" ou "reciclar meu estilo" ou qualquer outra justificativa vazia.

A realidade é que precisamos dar uma espanada na poeira ou até mesmo uma "esfoliada", de vez em quando. Não vou dizer que isso é uma solução sistêmica para qualquer coisa, aliás nem sei se existiria algo assim. Por outro lado, tentamos nos despojar de alguns ranços que aderem ao nosso comportamento e, da mesma forma, damos uma parada, o que, inevitavelmente, muda o foco de nossa atenção pelo tempo que nos damos para a mudança de pele.

Meio que fechados a influências externas, fazemos um balanço, normalmente em silêncio, como a redefinir as formas de linguagem e interação com o exterior, a partir de uma análise interior e de relativizaçoes, autojustificativas e outros procedimentos de reforço, afinal a rotina automatiza e condiciona nosso comportamento, enevoando nosso livre arbítrio.

A música é de 1970, período do exílio de Gil e Caetano na Europa. A gravação de Ellis Regina é alegre, otimista e irônica nas medidas certas. O interessante é que, depois que minha amiga definiu meu estado como mudança de pele, pensei nessa música e a preparei para um post que, eu já sabia, viria, como veio e, abstraindo-se das referências sociais e temporais específicas do que Gil passou, acho que para mim o saldo também foi bom.


Escrito por Um Barco às 11h15

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