Domingo, 11/09/2005

Silêncios e Esperas

A vida é feita de silêncios, mais que de sons. É feita de pausas, de esperas, às vezes mais prazeirosas que o objeto da espera. A esperança, a expectativa de algo que sabemos que vamos conseguir é um sentimento mais forte que o próprio ato da consecução.

São muitos os silêncios, como somos muitos, como sentimos de muitas formas, como vivemos muitos momentos distintos, como pensamos no plural. Cada silêncio tem seu tempo próprio, seu sentido, seu contexto, seu peso, sua marca.

Há o silêncio da espera pelo que sabemos que acontecerá, uma espera muda, mas há a espera pelo silêncio oriundo da pausa, pelo que virá após a pausa, pela própria quebra do silêncio, seja ele verbal ou visual. Sim, porque há os silêncios visuais, aqueles em que a mensagem escrita dirá o que gostaríamos de ler e que, quando a lemos, nos quedamos, emudecidos.

Há o silêncio da espera em vão, angustiante, assim como há a espera pelo amor que chegará, nem sempre em silêncio, num cantar interior.

Há o silêncio da contemplação do belo, do corpo, da frase inesperada, que cala fundo. Há o silêncio da solidão, cinza, vazio, que ensurdece o coração. Há o silêncio de depois, como bem cantou Vinicius, da satisfação do corpo e da paz do espirito, da harmonia.

Há o silêncio que se segue aos mal-entendidos, às palavras não interpretadas corretamente, ao que não poderia ser dito, mas o foi. É um silêncio triste, de arrependimento, de perda do momento, de quebra. A espera que se segue é dolorida e dura até a reconciliação, que sempre há.

Há uma espera pelo silêncio, do corpo, da mente, do coração, quando tudo em volta é uma algaravia, de sons, imagens e sentimentos, num verdadeiro burburinho. É uma espera desenfreada, desesperada, indesejada. Quando chega o silêncio, o mundo encolhe até o tamanho de nós mesmos, nosso em torno, apenas cada um de nós.

Caetano diz "...eu não estou indo embora, estou só preparando a hora de voltar...". Esse preparo é o começo de uma espera, de uma pausa, de um silêncio. É a espera pelo retorno, pela recomposição da realidade quebrada, da virtualidade interrompida, pelo fim do silêncio.


Escrito por Um Barco às 11h42


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