Quarta, 24/05/2006

Retrocesso

Mudo, vazio, sentado em frente ao computador.

Estou assim, agora, como quase sempre, contemplando as sombras projetadas no fundo da caverna de minha realidade, a partir de uma reflexão recente, em torno de um passado não muito próximo.

Naquela reflexão me dei conta de que aquilo que eu imaginava como real era, simplesmente, uma vontade, uma necessidade, nascida de um desejo de me tornar, de estar, de vir a ser. Tudo por causa de uma lembrança que, agora, eu revivia, quase quarenta anos depois, já com todas as referências, mas meio sem imaginação e quase sem vontades.

E foi uma lembrança forte, viva, como as tristezas antigas o são, quando afloram no mar do presente, vindas de um passado não muito distante, pelo menos em minha percepção, expulsando a impassividade que, porventura, enfeitava meu rosto naquele momento.

Era um traço de memória, era um rosto a me olhar, distanciando-se no tempo, esmaecendo como a foto que, casualmente, encontrei perdida, nas páginas do livro que folheava, e que me tirou da linha de raciocínio que seguia.

Folheando o livro, enquanto caminhava da estante à minha mesa de estudo, pensava nos desdobramentos que a vida coloca em nossas mãos e avaliava o peso dos acontecimentos nos meus ombros cansados de carregar uma cabeça irrequieta, por insatisfeita e que, portanto, buscava respostas em outros escritos, que não os já gravados na mente.

Os olhos se fixaram no título, impresso na lombada. Eu havia tomado emprestado e, até hoje, não devolvi. O livro desencadeou uma série de lembranças que, à época, apontavam para um futuro ou uma esperança de futuro que, como normalmente ocorre, era pintado pela falta de referências e pela imaginação, temperado com vontades.

Buscava algum livro na estante, olhando as lombadas, sem saber bem ao certo o que queria. Aliás, acho que nem sabia o que estava fazendo, talvez preenchendo um vazio de tempo, um vazio de vida, cheio que estava com tudo o mais.

Nem lembro, ao certo, o que me fez levantar de minha mesa de estudo e ir até a estante. Estava inquieto, pensando em algo que pudesse transpor para o papel virtual do computador, juventude, amizades, fatos. Pensava em quase quarenta anos atrás, 1968.

Uma vontade meio preguiçosa de escrever mais um post para este blog, garimpando no fundo de mina da memória alguma coisa digna de ser compartilhada.

Sentei em frente ao micro, oco, calado.


Escrito por Um Barco às 17h47

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