Terça, 03/01/2006

Passagens

Um ano se passou, tantos fatos acontecidos no ano que passou, passamos por tantas coisas e tantas outras coisas e fatos passaram por nós, passaremos por tanto, ainda, seremos ultrapassados. Passou o primeiro dia, o segundo dia e o tema me chamava para um post. Escolhi o terceiro dia do ano, combinando com o título da música de fundo, que inspirou este post.

Já houve um post semelhante, na despedida da versão anterior deste blog, mas se referia à passagem do tempo, numa analogia com um rio, nos versos de Capinam e na música de Edu Lobo.

E por falar em música, sinto que Um Barco vai, aos poucos, voltando ao rumo principal. Ao longo dessa fase atual, deixei que minhas águas, represadas, fossem liberadas, em forma de escritos, onde a música, instrumental, serviu de pano de fundo. No último post do ano, se bem que de forma parcial, retomei a trilha original de Um Barco, meio esquecida, onde a música tinha a importância da mensagem, quando não era ela, a mensagem.

Sem perder o caráter introspectivo, até por ser um atributo do qual não consigo escapar, volto a mesclar letras, músicas e mensagens, afinal o ano velho acabou, o ano novo está aí e nem parece que tudo mudou. Ou não mudou? Ou não mudamos?

Enfim, vivemos de passagens, de tempo, de pessoas, de acontecimentos, ritualizadas ou não, desejadas ou não, assumidas ou não. Páscoa, Pessach, cerimônias de passagem invocam renovações, ou o desejo delas, renascimentos ou, simplesmente, tomada de consciência da necessidade de mudanças.

Nesse aspecto, o ano novo é emblemático. Por mais que discordemos do clima festivo-eufórico-esperançoso, o simbolismo é muito grande, e vai muito além da queima de fogos e do espocar de rolhas das sidras, espumantes ou champagnes. Ninguém passa incólume por uma passagem de ano.

Eis-nos aqui, nos primórdios do ano novo, pensando, imaginando, sentindo, enquanto o tempo vai passando os fatos se desenrolando, passando, passando...

Como no post anterior, essa música de fundo me inspirou. "Terceiro Amor", palavras de Cacaso, música, arranjo e interpretação de Francis Hime. A letra diz o resto, que eu não soube dizer. Interessante, o final da canção, onde Hime colocou a introdução de "Trocando em Miúdos", que fala da passagem de uma relação.

Terceiro Amor
(Francis Hime e Cacaso)

O primeiro amor já passou
O segundo amor já passou
Como passam os afluentes
Como passam as correntes
Que desencontram do mar
Como qualquer atitude
Também passa a juventude
Que nem findou de chegar

O primeiro amor já passou
O segundo amor já passou
Como passam as gaivotas
Como passam as derrotas
Ilusões de pedra e cal
Como passam os perigos
E tantos muitos amigos
Sem deixar nenhum sinal

O primeiro amor já passou
O segundo amor já passou
Como passam os conselhos
Como passam os espelhos
Fantasias, carnavais
Inocências perdidas
Como passam avenidas
Corredores, temporais
A correnteza dos rios
Como passam os navios
Que a gente acena do cais.


Escrito por Um Barco às 08h49


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