Sexta, 02/06/2006

Olha...
(para Lena e Guida)

Olha...nem parece mais o que foi, visto assim, de onde agora estamos, do alto de nossa aparente segurança, pelas decisões tomadas, pelas conseqüências medidas e, desde então, assumidas, ao longo de tantos anos. Nem tudo era tão simples, antes da percepção dos motivos reais, por trás dos interesses então juvenis. Agora, até rimos dos receios que povoavam nosso imaginário.

Olha...foi tanta coisa, tantas palavras, tanto sentimento trocado, compartilhado que nem nos demos conta que o tempo é um corretor de eventos, um apagador de fatos, um escurecedor de sentidos. Por isso mesmo, acho, a gente foi levando, foi indo, meio sem saber bem para onde ou porquê e se separando, a cada passo.

Olha...nem tudo é o tempo todo; no máximo, está. De tudo, muita coisa ficou, muitas tatuagens em nossa alma, indeléveis, até coloridas, embora tenham causado alguma dor, mas é assim, na vida. Aquilo que realmente importa não ocorre sem que algo se rompa, se quebre, se rasgue, na rotina, na pele, no espírito. É do viver. Não somos, estamos, por mais que o desejo de ser nos domine e nos faça esquecer que o instante pouco dura.

Olha...tudo valeu, tudo...cada momento, cada palavra, cada gesto, cada coisa construída, cada sonho projetado, cada objeto, cada verbo, cada realidade imaginada, cada riso, cada choro.

Olha...o que houve até aqui foi apenas a manifestação daquilo que cada um de nós queria, por mais que negasse, por menos que desejasse, internamente, e apesar da reação exercida para seu impedimento. Nada disso adiantou...inútil, a tentativa da capturar o vento numa fronha. Fronhas capturam, quando muito, as tristezas diluídas em lágrimas, assim como os lençóis absorvem os prazeres. Questão de divisão, até injusta, que seja, mas é assim que as coisas ocorrem.

Olha...faz tanto tempo que já nem sei bem sobre o que falar, do que lembrar. Sei apenas que algo muito forte me faz transpor isso tudo para a ponta dos dedos, como a querer justificar o tempo esgotado, os anos findos, o presente longínquo, a distância que nos separa, imensa, comparada com a proximidade que nos unia, mesmo estando longes, um dos outros.

Olha...foi bom, foi muito bom, foi tão bom que até hoje continua me marcando, embora não sinta nenhum saudosismo daqueles meio doentios, do reviver o já passado. Sinto falta daquilo tudo, sim, da doçura dos momentos, e revivo cada mensagem trocada e o ambiente de então. E só.

Olha...foi tão bom conhecer e conviver com vocês, mas tão bom, que ainda curto aqueles momentos, ao relembrá-los. A linguagem que uso lembra, pelo menos em minha mente, as cartas que trocávamos, naqueles tempos sem internet. Até a música que toca é daqueles tempos, "aventureiros" que vivemos, e até hoje me toca.


Escrito por Um Barco às 21h44

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