Sábado, 17/09/2005

Inquietude

Poderia ser inquietação, o título deste post. É sinônimo, pelo menos segundo os dicionários Houaiss e Aurélio. Mas, para mim, inquietação diz respeito ao exterior, à agitação, à movimentação, uma inquieta ação. Inquietude tem um som mais intimista, mais interior, introspectivo, bem ao meu gosto, daí a escolha da palavra.

Coração, mente e alma nem brigam entre si, até porque o estado de inquietude desorganiza, desagrega, faz-nos percorrer de um raciocínio a uma emoção, passando por uma intenção em agir, sem que nada disso se complete, numa paralisia circular que gira em torno de um núcleo composto de um querer e não poder, em conjunto com um poder e não querer.

Inquietude é um rasgar de idéias, um amassar de pensamentos, como fazemos com papéis e clipes, é um perambular por imagens íntimas sem que se fixe em nenhuma, é um folhear de lembrança vagas, temperadas por anseios e vontades de tudo e de nada. Em comum, apenas uma insatisfação interior e latente.

E nos deixamos ficar, numa perplexidade interna, mente a mil, coração a cem, vontade a dez, corpo a zero, objetividade estática, parada, subjetividade perdida, desarmonia.

Emoções concretas passando ao largo, pensamentos teimando em fugir e nós, perdidos numa viagem dentro de nós mesmos, do que somos, num autismo momentâneo, num redemoinho vicioso, querendo, sem saber bem o quê, não querendo, e sabendo o porquê.

E torcemos as mãos, viramos a cabeça de um lado para outro, crispamos o rosto, tamborilamos com os dedos, mil e um gestos e trejeitos, numa tentativa, quem sabe, de exorcizar isso que nos toma por dentro e nos tira do prumo.

Mas, no fundo, sabemos que nós mesmos somos a causa dessa inquietude, nós e nossas decisões, opções, escolhas, tudo isso temperado por receios, dúvidas, incertezas. E recai sobre nós mesmos, o efeito, mas não temos como interromper, no momento, essa espiral descendente.

O tempo, sempre o tempo, vai acomodando essas coisas dentro de nós, homogeneizando, acalmando, aparando as arestas das emoções, alisando as farpas dos pensamentos, chegando a um ponto em que ficamos acostumados ao rumor interno. Por fim, incorporamos tudo aquilo ao nosso cotidiano, amortecidos, conformados, até que um novo estado se manifeste ou que algum conflito remanescente se resolva nessa dialética interior.


Escrito por Um Barco às 07h47


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