Terça, 07/02/2006

Hiato e caminho

11 de janeiro de 2006. Foi a data do último post. Quase um mês, o tempo de um sonho ou de um pesadelo, mais que o de uma vontade, menos que o de um interesse, o mesmo intervalo de uma passagem, talvez mais longa que o esperado, o tempo inexato de uma parada, a duração incompleta de uma reflexão, um hiato necessário, decisões, como a de limpar o modelo do blog, deixando um fundo branco, caderno vazio, vida (virtual?) em aberto.

Ficaram os olhos, também em fundo branco, o referencial mais próximo e cotidiano de minha vida (real?) e do futuro, não como, propriamente um guia ou um farol, mas como lembrete, como âncora, como esperança. Algum dia, quem sabe, a dona desses olhos, talvez não tão límpidos de inocência como hoje estão, lerá essas palavras e pensará no que foi, no que fui, no que é.

Agora é caminhar, seguir em frente por absoluta falta de outra opção ou direção. A trilha ou caminho ou estrada vai se desdobrando à frente, como uma pista rolante, nos levando a algum lugar, algum destino. Conseguimos discernir outras pistas, outros caminhos paralelos, até nos aventuramos em um ou outro, mas retornamos à trilha principal.

É como uma daquelas paisagens que se vê em filme de fantasia. Um caminho em meio a um bosque ou floresta, nevoeiro branco pairando, eventualmente um sol pálido se esforçando para enviar alguns raios tímidos por entre as folhas das árvores e alguém caminhando. No caso, somos nós, tateando em busca de uma vida, se aventurando, eventualmente, por um sonho, aceitando ilusões como realidade, vivendo as fantasias, sabendo que são reais.

Olhando para trás, vê-se uma trilha incerta, difusa, as pegadas desaparecendo na bruma, as lembranças ainda claras, na memória, a vontade, ainda um gosto doce na boca, enquanto ainda há vontades.

Hiatos, assim, nos fazem parar, nem que seja para, apenas, olhar para trás e ver o que foi vivido e percorrido por uma perspectiva menos plana, mais cavaleira. Mesmo que nada de novo seja decidido, o olhar para trás nos mostra ângulos que nos recusávamos a ver e, mesmo tendo visto, a aceitar, preferindo o engano do coração ao concreto da mente.

Olhamos para trás, uma última vez, suspiramos, olhamos para o futuro e reiniciamos nosso caminho, afinal, a trilha está ali mesmo, apesar da bruma, apesar das árvores, apesar do silêncio. Mais à frente, sabemos, o sol irá penetrar nas nuvens, num gozo de claridade, e teremos uma luz a nos guiar, durante algum tempo e teremos a ilusão (ou a certeza momentânea) que, como a música de fundo deste post, esse é um "...caminho certo sem perigo, sem perigo fatal".


Escrito por Um Barco às 20h16

[ Comentários  ]