Sábado, 24/02/2007

Arlequim

No princípio era eu, sujeito, e meu verbo
Cheio de predicados, minha palavra plena, adjetiva
Meu chapéu de sonhos estrelados, meu céu,
Lua de mim mesmo, meu sol.

No princípio era eu, aquilo que queria,
Era o que achava que deveria ser,
Ouvidos e olhos abertos para fora,
Ruído branco ao fundo, imperceptível.

No princípio era eu, senhor do meu tempo,
Justamente o que, imaginei, me sobrava,
Disfarçado pela companhia de outros
Ao meu redor, amortecendo os sentidos.

No princípio era eu, minha solidão oculta,
Na verdade, insatisfação, rebeldia, vontade,
Era um riso que tudo encobria e ocultava,
Um canto que refletia o que me faltava.
 
No princípio, tudo era como lembrança,
De nada que tenha havido, era anseio.
Mas princípios passam, viram depois,
E, depois, viram agora, para sempre.

Assim me encontro, agora, depois do princípio, 
Após o depois, muito a dizer, pouco a pensar,
Até porque a banda toca, o povo dança,
E vou junto, pulando, cantando, vivendo.

Escrito por Um Barco às 00h00

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